História
Homenageado no Carnaval do Rio de Janeiro.
Martinho da Vila - Homenageado no Carnaval do Rio de Janeiro.
Filho de lavradores da Fazenda do Cedro Grande, mudou-se para o Rio de Janeiro com apenas quatro anos. Quando se tornou conhecido, voltou a Duas Barras para ser homenageado pela prefeitura em uma festa, e descobriu que a fazenda onde havia nascido estava à venda. Não hesitou em comprá-la e hoje é o lugar que chama de "meu off-Rio". Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos-Forros, a primeira profissão foi como auxiliar de químico industrial, função aprendida no curso intensivo do SENAI. Mais tarde, serviu o Exército Brasileiro como sargento burocrata. Nesta instituição ele começou na Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente e contador, profissões que abandonou em 1970, quando deu baixa para se tornar músico profissional.
Martinho da Vila, 1973. Arquivo Nacional.
A carreira artística surgiu para o grande público no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com a música "Menina Moça". O sucesso veio no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançando a canção "Casa de Bamba", um dos clássicos de Martinho. O primeiro álbum, lançado em 1969, intitulado Martinho da Vila, já demonstrava a extensão de seu talento como compositor e músico, incluindo, além de "Casa de Bamba", obras-primas como "O Pequeno Burguês", "Quem é Do Mar Não Enjoa" e "Prá Que Dinheiro" entre outras menos populares como "Brasil Mulato", "Amor Pra que Nasceu" e "Tom Maior". Logo tornou-se um dos mais respeitados artistas brasileiros além de um dos maiores vendedores de disco no Brasil, sendo o segundo sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias com o CD Tá Delícia, Tá Gostoso lançado em 1995 (o primeiro foi Agepê, que em 1984 vendeu um milhão e meio de cópias com seu disco Mistura Brasileira). Destacam-se Zeca Pagodinho, Simone (CD Café com leite, um tributo a Martinho da Vila, 1996) e Alcione como os maiores intérpretes.
A celebração do 75º aniversário do cantor, bem como 45 anos de carreira, levou Martinho a receber o segundo volume da série Sambabook em 2013, depois de João Nogueira receber o original no ano anterior.
Prêmios e condecorações
Entre os títulos recebidos por Martinho da Vila, estão os de Cidadão Carioca, Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, Comendador da República, em grau de oficial e a Ordem do Mérito Cultural, por seu trabalho em prol da cultura brasileira. Foi condecorado com a Medalha Tiradentes e a Medalha Pedro Ernesto. Ganhou o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira em 1991. Em 1993, recebeu cinco Prêmios Sharp na categoria samba e o Prêmio Shell de Música Popular Brasileira. Em 2014 foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode, pelo álbum Enredo. O álbum De Bem com a Vida, lançado em 2016, ganhou o Grammy Latino no mesmo ano, na categoria Melhor Disco de Samba. No ano seguinte Martinho recebeu da Universidade Federal do Rio de Janeiro o título de Doutor Honoris Causa. Recebeu também o título honorário de Embaixador Cultural de Angola e Embaixador da Boa Vontade da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), por divulgadr a lusofonia e incentivar as relações linguísticas da língua portuguesa. Martinho é também membro da Divine Académie Françoise des Arts, Letres e Culture, tendo sido condecorado com a medalha de honra daquela academia.
Escola de samba
A dedicação à escola de samba do coração, Unidos de Vila Isabel, iniciou em 1965. Antes, participava da extinta Aprendizes da Boca do Mato. A história da Unidos de Vila Isabel se confunde com a de Martinho. Desde essa época, assina vários sambas-enredo da escola. Também envolvido nos enredos da escola, criou o samba Kizomba: A Festa da Raça, e garantiu para a GRES Unidos de Vila Isabel o título do Grupo Especial do ano de 1988. Após uma ausência de 17 anos, desde a composição "Gbala" em 1993, em 2010, Martinho ganhou o concurso de sambas-enredo mais uma vez, cedendo à escola um enredo sobre Noel Rosa, outro compositor de Vila Isabel que celebraria seu centenário naquele ano. Martinho declarou que seria seu último samba-enredo. Em 2013, quando Martinho completou 75 anos, seu filho Tunico da Vila levou Vila Isabel ao título com o enredo "A Vila Canta o Brasil, Celeiro do Mundo. Água no Feijão, que Chegou Mais Um".
Martinho já foi homenageado pelo então bloco carnavalesco, hoje escola de samba GRES Mocidade Independente de Inhaúma no ano de 1983 com o enredo Da Boca do Mato a Vila Isabel, que levantou o público da avenida. O desfile contou com a participação de Élcio PV, da Beija Flor.
Martinho foi anunciado como enredo da Unidos de Vila Isabel para o carnaval de 2021. O artista é presidente de honra da agremiação. O carnaval de 2021 foi cancelado pelo governo do Rio de Janeiro devido às restrições sanitárias impostas pela pandemia de COVID-19. O evento, mantendo o enredo "Canta, Canta, Minha Gente! A Vila é de Martinho!" no desfile da Unidos de Vila Isabel, foi previsto para acontecer em 2022.
Estilo
Embora internacionalmente conhecido como sambista, com várias composições gravadas no exterior, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB e compositor eclético, tendo trabalhado com aspectos da cultura brasileira e criado músicas dos mais variados ritmos brasileiros, tais como ciranda, frevo, samba de roda, capoeira, bossa nova, calango, samba-enredo, toada e sambas africanos. O espírito de pesquisador incansável, viaja desde o disco O Canto das Lavadeiras, baseado na cultura brasileira, lançado em 1989, até o mais recente trabalho Lusofonia, lançado no início de 2000, reunindo canções de todos os países de língua portuguesa. Em setembro de 2000 concretizou, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos projetos mais cultuados: a apresentação do Concerto Negro. Idealizado por Martinho e pelo maestro Leonardo Bruno, o espetáculo enfoca a participação da cultura negra na música erudita. Para cuidar das diversas atividades, criou o Grupo Empresarial ZFM abrindo as portas para sambistas com um selo musical e inaugurando sua própria editora, com o primeiro romance Joana e Joanes.