Eu sempre fiz o toque em casa, banho, espelho, deitada. E descobri um caroço na mama direita no primeiro semestre de 2018 com 33 anos. Mas a princípio não fui ao médico naquele momento porque era um caroço pequeno e eu já havia lido que poderia ser apenas cisto ou fibroadenoma (é um tipo sólido de nódulo não cancerígeno na mama, mais comum em adolescentes e mulheres até os 30 anos). Na época eu deixe passar 2 ou 3 cistos até eu perceber que ele não sumia e que ele crescia. Quando eu descobri ele era do tamanho de um feijão.
Quando eu fui ao médico fazer exames ele estava do tamanho de uma azeitona pequena, parece que ele crescia um pouco a cada dia. Nesse momento eu já tinha pleníssima consciência de que era um nódulo e ele não era benigno, mesmo sem ainda ter tido o diagnóstico de um profissional. (não sei como nem porque).
Aqui na minha cidade tem um lugar, tipo um micro hospital que atende por uma tabela social, a gente paga taxas, taxa de consulta, taxa variadas para exames variados. Então eu fui ao ginecologista (porque nesse lugar eu já fazia o meu preventivo), expliquei o que estava acontecendo, ele examinou e pediu alguns exames, dentre eles eu fiz o ultrassom de mama (até porque eu não tinha idade para fazer mamografia) e nesse exame o médico já ficou preocupado, porém sem ter certeza porque precisava de exame mais minucioso.
Com o resultado retornei ao ginecologista que também me mostrou uma preocupação e me encaminhou ao mastologista.
Quando eu consultei com o masto ele me mostrou a mesma preocupação e no mesmo momento ele disse que eu precisava fazer uma cirurgia urgente para retirada imediata daquele nódulo porque ele estava crescendo rápido e que depois o material seria enviado para biopsia. Ele disse
que não dava tempo de esperar pelo SUS que eu deveria fazer particular e essa cirurgia era muito cara (uns 15k se não me engano).
Eu já tinha lido muitas matérias da OMS, INCA, hospitais, médicos, sobre o assunto Câncer de Mama. Então eu não fui totalmente leiga ao médico.
E quando o masto me falou da cirurgia eu lembro que eu fiquei chocada e perguntei se ele não pediria mais exames para maiores esclarecimentos e comprovações como, Ressonância Magnética, biopsia, e outros, esses são os mais importantes.
Quando eu sai do médico eu me perguntava como ele vai fazer uma cirurgia sem saber o tipo de nódulo e como ele é, ele não me falou o tipo de cirurgia que deveria ser feito (tem várias). Então eu fiquei preocupada com esse contexto, não fiquei contente. E fui pensar em como eu
procuraria uma segunda opinião.
Eu queria um médico X (pensei em alguém específico) pra ter uma segunda opinião, mas ele tinha uma clinica particular e era caro, eu não tinha condições. Fui tentar uma consulta no SUS, mas eu precisava entrar por um posto de saúde que demoraria, porque eu deveria passar por
um clínico geral, depois ginecologista e ele me encaminhar ao mastologista (porque os postos que tinha perto da minha casa não tinha ginecologista, tinha que passar pelo clínico pra mandar para gineco). E quando eu consegui passar pelo gineco ele me encaminhou ao masto, quando
a secretaria foi dar a entrada nesse pedido ela me avisou: essa consulta ao masto pode demorar
60 dias ou mais.
Eu pensava: não tem tempo ......
Porque quando mais eu demorava, mais o nódulo crescia.
Minha mãe teve a ideia de ir ao Hospital do Câncer tentar uma consulta, mas por ser vinculado ao SUS não consegue consulta assim, o paciente tem que vir do SUS, a rede que tem que te colocar numa consulta lá. Minha mãe tinha ido comigo esse dia e ela procurou a assistente pessoal de lá e explicou o que estava acontecendo e os exames que eu tinha até o momento.
A assistente social por sua vez enviou um pedido para rede SUS explicando a urgência da situação e pediu para eu aguardar entre 5 e 7 dias, pra ver se eles conseguiriam uma vaga pra mim.
Em 3 dias eu recebi uma ligação com um agendamento de consulta com o mastologista em uma semana no CEM (Centro Especializado Municipal) um micro hospital também. E quando a pessoa do telefone me disse quem era o médico eu fiquei chocada de felicidade, porque era
aquele médico X que eu falei acima...
No dia da consulta, ele me examinou, contei tudo o que aconteceu com o médico anterior, ele disse que eu fiz muito certo em procurar uma segunda opinião porque tem que saber qual o tipo de nódulos que o medico está lindando, saber qual o tipo de cirurgia correta, se é benigno ou maligno, saber a nomenclatura, subtipo, grau... precisava de exames mais precisos, pediu mais 1 ultrassom, RM, RX, biopsia.
Com os exames prontos foi eu e minha mãe a consulta, ele viu todos e disse: Cristiane eu tenho uma notícia boa e uma ruim. Eu disse, então comece pela ruim. “Você tem Câncer de Mama. A notícia boa é que tem cura, dá tempo de fazer o tratamento, vou pedir mais exames para que possamos ver em qual estágio que está e saber qual será o protocolo do seu tratamento, mas é certeza que você terá que fazer a cirurgia, quimioterapia e radioterapia, não exatamente nessa ordem, porque cada caso é um caso.
Fiz mais exames (vários, vários, inclusive do corpo todo, que vê cada órgão, cada ossinho que possamos ter).
Inclusive o Imuno-histoquímica para descobrir em que grau estava, e foi constatado um nódulo de malignidade Câncer de Mama, Subtipo Triplo Negativo, grau 4.
Triplo Negativo é um CA mais agressivo dentro no CA de Mama, que se dá quando que as células cancerígenas eram todas negativas para os agentes receptores de hormônio.
E ele é um Triplo Negativo”, seu nódulo está em 6cm, isso é muito grande, e esse tipo de Câncer é muito agressivo e surge em mulheres mais jovens (eu tinha 34 na época da descoberta). Ele ainda não dispõe de uma terapia-alvo ainda não havia nenhum tipo de tratamento específico direcionado para esse tipo de Câncer.
Ordem do tratamento?
1- Quimioterapia – 12 sessões branca + 4 sessões vermelha (novembro/18 a Abril/19)
2- Cirurgia – 26/07/19
3- Radioterapia- 25 sessões (fevereiro/20)
Foi uma cirurgia de Mamoplastia redutora com retirada do quadrante superior direito, esvaziamento da axila direita e reconstrução das duas mamas. Foram retirados 9 linfonodos, o resultado final da cirurgia sobre as margens foi de 100%, satisfatório.
Quando eu comecei o tratamento automaticamente eu comecei outra vida também, (isso acontece até sem a gente perceber)...
Eu trabalhava normalmente quando descobri o nódulo, tinha emagrecido, estava na minha melhor forma, ia voltar a treinar porque eu fazia artes como treino (Jiu jitsu, Muay Thai), mais nova eu jogava bola e fazia capoeira, porém nunca fui magra, pelo contrário, eu era gordinha, mas nada fora do normal, sempre saudável, nem gripada eu ficava, e eu emagrecia e engordava (naquele efeito sanfona)...
Tive um grande impacto financeiro e profissional também quando tive que me afastar realmente. Com 2 meses fazendo quimioterapia eu ainda trabalhava normalmente, depois eu me afastei pelo INSS porque não estava mais conseguindo por conta das reações porque meu protocolo de
tratamento foi muito forte.
Minha Oncologista clínica me disse: seu câncer é agressivo, mas você é jovem então eu vou com tudo, os medicamentos são fortes e serão usando e grandes doses, eu disse: ‘manda vê’.
Tive muitas reações que me deixaram muito debilitada.
Perdi amigos (ou quem achava que era amigo) e ganhei novos amigos.
Minha família esteve o tempo todo comigo, mesmo sem entender a fundo o que eu estava passando, porque as pessoas de fora não entendem, porque essa doença é muito surreal.
Eu costumo dizer que primeiro ela te mata, depois ela te dá a vida de volta, e o retorno com certeza está ligada a fé. Eu sempre fui uma pessoa de muita fé, de orar, de conversar com Deus, e foi Ele que me manteve de pé, porque faltou pouco pra essa doença me levar...
Hoje Setembro de 2021.
Eu me encontro com “sequelas” de algumas reações que ainda ficaram em mim.
Tentando dar um Up na minha vida profissional, nunca parei de estudar e me atualizar.
Uso as redes sociais para dividir minhas experiências com pessoas que passam pelo mesmo problema, e poder conversar e falar sobre assuntos que devem ser ditos. Sobre o câncer, o tratamento, cada cirurgia, cada protocolo, reações, o que fazer para amenizar, alimentação, consultas, o vida profissional, voltar ao trabalho ou nem sempre voltar porque as organizações ainda não estão preparadas para reabilitar um profissional que
passou por um longo período de tratamento.
Em fim tudo que eu posso falar e trocar uma ideia eu falo e as pessoas me procuram muito também para conversar e me contar sobre o diagnóstico delas, e seus medos e saber como fiz pra lidar com isso...
Aguardando ansiosamente pelo prazo de 5 anos que é quando o paciente pode dizer que está em estado de remissão.
Faço o controle de consultas e exames (vários exames) periodicamente.