Sebastião Bomfim Filho



Sebastião Bomfim Filho

Falido, ele mudou seu foco e conquistou o mercado esportivo no Brasil.

   A má gestão financeira levou Sebastião Bomfim Filho a ter que fechar as portas da sua primeira empresa e recomeçar com 26 anos. Entusiasta dos esportes e familiarizado com o varejo, criou a primeira loja Centauro em 1981, com os U$ 10.400 que lhe restaram da primeira empresa. Hoje é a maior rede multicanal de varejo em artigos esportivos da América Latina e que alcançou uma receita de R$ 1,3 bilhão nos primeiros 9 meses de 2017.

   Natural de Caratinga, interior de Minas Gerais, seu pai era dono da loja de tecidos Casa Bomfim e uma loja de máquinas. Lá cresceu e viveu sua infância até os 11 anos. Aos 9 anos, Sebastião pediu ao pai um cavalo de aniversário mas ganhou no lugar um emprego. Acompanhava o pai pela manhã para a loja e à tarde ia para o grupo escolar Princesa Isabel. Na loja fazia pequenos serviços e ajudava os vendedores mais velhos. Sebastião só ganhou o cavalo depois de mostrar que dava conta do recado.

   Com 16 anos, a morte do pai e o fato de ser o filho homem mais velho, o obrigou a assumir parte dos negócios da família, duas fazendas em Caratinga. Aos 22 anos, montou um escritório de representação em Minas Gerais de uma fábrica de balanças paranaense, para bois. Com o dinheiro que ganhou, aos 24 anos, adquiriu uma fabricante de balanças na capital mineira e decidiu mudar-se para lá no começo dos anos 80. Seus principais compradores eram fazendeiros, já tinha mais de 60 empregados, mas o negócio não se sustentou por muito tempo.

“Se você trabalha pra alguém, você tem a posição do final do mês o seu salário. Empresário é zero segurança.“

   Por se descuidar do fluxo de caixa da empresa e quase nenhum dinheiro para cobrir os custos mensais sentenciaram a empresa ao fechamento. Vendeu as máquinas da fábrica e lhe restou 10 500 dólares. Sebastião estava falido, com 26 anos, casado, pai de um filho pequeno e disposto a recomeçar.

   Foram mais de dois meses avaliando outras alternativas de negócio em que pudesse investir. Sua primeira decisão foi pelo varejo, porque era algo que gostava desde pequeno. Já sua segunda grande decisão foi sobre o que venderia. Já havia percebido que na década de 80 as pessoas começavam a sair do sedentarismo, e como Sebastião já gostava de praticar esportes, tomou a decisão: montar uma loja de artigos esportivos.

   Usando as economias que sobraram da antiga fábrica de balanças criou a Centauro, a primeira que originaria mais tarde o Grupo SBF, que controla as lojas Centauro, ByTennis e Almax Sports. Sua relevância se tornou tão expressiva que em 2009 firmou um acordo de 10 anos com a marca americana Nike para expansão das lojas Nike Store no país. Tem mais de 210 pontos de venda em 22 estados brasileiros, no Distrito Federal e também pela internet.

“Demorei a tirar a ideia do papel. Eu tinha 47 anos e estava resolvido financeiramente. Temia embarcar num projeto que exigiria alto investimento e que, se desse errado, poderia pôr em risco o que eu já tinha conquistado.”

   No começo, Sebastião recorreu a uma pesquisa simples: percorria as ruas de comércio popular para visitar revendas de artigos esportivos e ver como eram. Lembra de tê-las achado feias, escuras, desorganizadas e com uma decoração um tanto duvidosa. Na contra mão de tudo o que tinha observado, Sebastião escolheu as regiões mais nobres de Belo Horizonte para atrair clientes de maior poder aquisitivo e para a primeira loja investiu em um carpete bege e vinho nas lojas, contratou uma vitrinista para expor os produtos e apostou suas fichas em um ambiente atrativo e visualmente bonito.

   Com habilidades com a marcenaria, propôs ao marceneiro que fabricaria os móveis para a loja, que o ajudaria em troca de um desconto. Abriu a primeira loja pouco antes do inverno de 1981, mas sem capital para investir em agasalhos, decidiu fazer um grande estoque no inverno do ano seguinte que ironicamente fez bastante calor e com isso o estoque encalhou. A solução encontrada por ele foi encurtar as mangas dos agasalhos, emplacando um sucesso de vendas.

   No final dos anos 90, com 22 lojas abertas em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e em Brasília, começou a vislumbrar a ideia de investir em superlojas, com pelo menos 2 mil metros quadrados, dentro de shopping centers.

   Decidiu correr atrás do que era necessário para fazer seu plano sair do papel e procurou administradores de shoppings em busca de espaço para as grandes lojas, mas não conseguiu convencê-los de primeira. Sem sócios e sem modelo ou resultados que pudesse apresentar, só conseguiu concretizar sua empreitada na metade do ano 2000, no shopping West Plaza, em São Paulo, que lhe cedeu o lugar que antes era ocupado pela Mesbla e pelo Mappin, em processo de falência. Em 2008, veio a inauguração da primeira loja conceito da rede Centauro no shopping Cidade Jardim, em São Paulo, com 515m², além do mezanino com mais 212m². Além da expressiva presença no setor, o varejista também investiu em produtos próprios, desenvolvidas no Brasil e fabricados na Ásia.

   Sebastião, hoje com 65 anos, já passou dez anos sem tirar férias e conta guardar um certo arrependimento. “Costumava passar os fins de semana em família, mas com a cabeça longe, na empresa. Algum preço se paga para construir algo, e o meu foi esse. Ter sido workaholic por tanto tempo foi a maior besteira que fiz na vida”.

   Atualmente, o Grupo SBF patrocina os principais eventos esportivos do país, como a Copa das Confederações FIFA Brasil 2013, Copa do Mundo FIFA Brasil 2014, além de ser a patrocinadora oficial do tenista Marcelo Melo. No final de 2012, o fundo de investimentos GP comprou 36.5% do Grupo por R$ 450 milhões, já o faturamento do Grupo em 2017 foi de quase R$ 2 bilhões.